sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

"Ditabranda" para quem?

de Maria Victoria de Mesquita Benevides*


Quase ninguém lê editorial de jornais, mas quase todos leem a seção de cartas. E foi assim que tudo começou. Os fatos: a Folha de S.Paulo, em editorial de 17/2, aplica a expressão “ditabranda” ao regime militar que prendeu, torturou, estuprou e assassinou. O primeiro leitor que escreve protestando recebe uma resposta pífia; a partir daí, multiplicam-se as cartas: as dos indignados e as dos que ainda defendem a ditadura. Normal.

Mas eis que chegam a carta do professor Fábio Konder Comparato e a minha: “Mas o que é isso? Que infâmia é essa de chamar os anos terríveis da repressão de ‘ditabranda’? Quando se trata de violação de direitos humanos, a medida é uma só: a dignidade de cada um e de todos, sem comparar ‘importâncias’ e estatísticas. Pelo mesmo critério do editorial da Folha, poderíamos dizer que a escravidão no Brasil foi ‘doce’ se comparada com a de outros países, porque aqui a casa-grande estabelecia laços íntimos com a senzala – que horror!” (esta escriba). “O leitor Sérgio Pinheiro Lopes tem carradas de razão. O autor do vergonhoso editorial de 17/2, bem como o diretor que o aprovou, deveria ser condenado a ficar de joelhos em praça pública e pedir perdão ao povo brasileiro, cuja dignidade foi descaradamente enxovalhada. Podemos brincar com tudo, menos com o respeito devido à pessoa humana” (Prof. Fábio).

As cartas são publicadas acompanhadas da seguinte Nota da Redação – “A Folha respeita a opinião de leitores que discordam da qualificação aplicada em editorial ao regime militar brasileiro e publica algumas dessas manifestações. Quanto aos professores Comparato e Benevides, figuras públicas que até hoje não expressaram repúdio a ditaduras de esquerda, como aquela ainda vigente em Cuba, sua ‘indignação’ é obviamente ‘cínica e mentirosa’.”

Pronto. Como disseram vários comentaristas, a Folha mostrou a sua cara e acabou dando um tiro no pé. Choveram cartas para o ombudsman do jornal – que se limitou a escrever, quase clandestino, que a resposta pecara por falta de “cordialidade”. Um manifesto de repúdio ao jornal e de solidariedade, organizado pelo professor Caio Navarro de Toledo, da Unicamp – com a primeira adesão de Antonio Candido, Margarida Genevois e Goffredo da Silva Telles – passa imediatamente a circular na internet e, apesar do carnaval, conta com mais de 3 mil assinaturas. Neste, depoimentos veementes de acadêmicos, jornalistas (inclusive nota do sindicato paulista), artistas, estudantes, professores do ensino fundamental e médio, além de blogs. Vítimas da repressão escrevem relatos de suas experiências e até enviam fotos terríveis. A maioria lembra, também, o papel da empresa Folha da Manhã na colaboração com a famigerada Oban.

O que explica essa inacreditável estupidez da Folha?

A meu ver, três pontos devem ser levantados: 1. A combativa atuação do advogado Comparato para impedir que os torturadores permaneçam “anistiados” (atenção: o caso será julgado em breve no STF!). 2. O insidioso revisionismo histórico, com certos acadêmicos, políticos e jornalistas, a quem não interessa a campanha pelo “Direito à Memória e à Verdade”. 3. A possível derrota eleitoral do esquema PSDB-DEM, em 2010. (Um quarto ponto fica para “divã de analista”: os termos da nota – não assinada – revelam raiva e rancor, extrapolando a mais elementar ética jornalística.)

Dessa experiência, para mim inédita, ficou uma reflexão dolorosa, provocada pela jornalista Elaine Tavares, do blog cearense Bodega Cultural, que reclama: “Sempre me causou espécie ver a intelectualidade de esquerda render-se ao feitiço da Folha, que insistia em dizer que era o ‘mais democrático’ ou que ‘pelo menos abria um espaço para a diferença’. Ora, o jornal dos Frias pode ser comparado à velha historinha do lobo que estudou na França e voltou querendo ser amigo das ovelhas. Tanto insistiu que elas foram visitá-lo. Então, já dentro da casa do lobo ele as comeu. Uma delas, moribunda, lamentou: ‘Mas você disse que tinha mudado’... E ele, sincero: ‘Eu mudei, mas não há como mudar os hábitos alimentares’. E assim é com a Folha (...). São os hábitos alimentares”.

O que fazer? Muito. Há a imprensa independente, como esta CartaCapital. Há a internet. Há todo um movimento pela democratização da informação e da comunicação. Há a luta – que sabemos constante – pela justiça, pela verdade, pela república, pela democracia. Onde quer que estejamos.

*Maria Victoria Benevides é socióloga com especialização em Ciências Políticas e professora titular da Faculdade de Educação da USP.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Fragmentos

"Perdida na avenida
Canta seu enredo
Fora do Carnaval..."
(Chico Buarque - "Dura na queda")


***
Fragmentos de diálogos inacabados. Envolvem álcool, em alguma medida. Nada demais.


Pessoa 1 - Tenho medo, viu.
Pessoa 2 - Tenha, não é nada demais.


Pessoa 3 - Beber é bom. E chorar nem é tão ruim assim. Eu acho que chorar bebendo é tipo redução de danos.


Pessoa 4 - Não é feio não... pena que é um porre, né.


Pessoa 5 - Ai ai ai, é melhor você ir beber logo e largar a fixação.
Pessoa 6 - Tenho reunião antes de beber.


Pessoa 7 - Oi, amiga. Tô vendo aqui teu e-mail.
Pessoa 8 - Vê aí e me aconselha de novo, por favor.
Pessoa 7 - Só vi a versão 2 depois...
Pessoa 8 - Tudo bem, nem tem taaanta diferença.
Pessoa 7 - É. Eu consegui identificar as adições que você fez.
Pessoa 8 - Por isso que eu te amo, amiga. Além de meu superego, você identifica minhas adições!


Pessoa 9 - Não vou fazer nada e vou esperar. Que é o que eu mais tenho feito nesse último período. Depois, vou ficar aqui segurando a onda. A segunda coisa que eu mais faço. A terceira é beber!

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Feliz Carnaval!

Recebi este e-mail do Guilherme Vargues, uma pessoa muito querida que tem cara de samba e de Carnaval e de tanta coisa boa que a terra dele, o Rio, tem lá. Tomei a liberdade de colocar aqui, pra afirmar a alegria do momento, mas também, lembrar que até a alegria tem seu sentido político. Feliz Carnaval!


"E um dia, afinal, tinham o direito a uma alegria fugaz
Uma ofegante epidemia que se chamava carnaval,
o carnaval, o carnaval"


O ano começou feliz, porém as bombas caíram.
Esse ano também é o primeiro sem Jamelão agitando a verde e rosa.
As coisas andam complicadas, por aqui, por lá e precisamos pensar em tudo isso.

Mas como diria meu amigo Diogo Coelho:
"Já é verão aqui no Rio de Janeiro, finalmente fevereiro, a cidade em alto astral ..."

Nessa época as flores jorram confetes, as nuvens soltam serpentinas
A cerveja gelada
O sorriso e a alegria

Voltando no tempo, em 1936, Paulo da Portela foi eleito "Cidadão Momo" do Rio de Janeiro, a imprensa publicou o primeiro decreto de Paulo para o período do carnaval:

"Eu, Cidadão Momo de 1936, eleito pelos foliões desta cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, de acordo com os poderes que me foram conferidos para governar durante o tríduo da folia,considerando que o nosso regime republicano não se coaduna com um reinado, nem mesmo carnavalesco, considerando que o samba nasceu no morro e rei não freqüenta morro, considerando que no carnaval não pode haver vassalagem, considerando que a monarquia, pelas próprias extravagâncias do rei, por mais popular que seja , não pode encarnar o samba, a verdadeira alma do carnaval, resolvo destronar o rei, que terá a sua cidade como menage, ficando sem efeito todo e qualquer decreto lavrado pelo monarca, a estas horas reduzido à expressão mais simples".

Que sirva para nos reciclar, para repensar a vida e a força de se sentir livre por alguns dias...

Feliz Carnaval!

(Guilherme Vargues - RJ)

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

8 de março – Dia internacional de luta das mulheres!

Nós não vamos pagar por essa crise!
Mulheres livres! Povos soberanos!


Neste 8 de março de 2009, levantamos nossas bandeiras contra o capitalismo, o imperialismo, o machismo, o racismo e a lesbofobia. Estamos nas ruas para afirmar o que queremos construir a partir do feminismo: um mundo livre de exploração, desigualdades e discriminação.
Por uma transformação radical com igualdade, autonomia, liberdade e soberania popular!

Feministas contra o capitalismo patriarcal!

As crises financeira, econômica, ambiental e alimentar que afetam o planeta e nossas vidas não são fenômenos isolados. Trata-se de uma crise global, gerada por esse modelo de desenvolvimento, baseado na superexploração do trabalho e na especulação financeira. Uma de suas bases de sustentação é a opressão das mulheres, que combina machismo e capitalismo, transformando tudo em mercadoria e colocando preço inclusive em nossos corpos.

Não acreditamos em respostas superficiais para a crise.
Somos contra os milhões retirados dos fundos públicos para salvar bancos e grandes empresas. Isso gera mais concentração de riqueza e reproduz o sistema capitalista patriarcal. Também somos contra qualquer tentativa de retirada dos direitos trabalhistas e de redução de salários, propagandeadas como soluções para a crise econômica. Queremos investimentos públicos que garantam as vagas de trabalho já existentes, que ampliem a oferta de vagas com carteira assinada e reforcem a rede de direitos sociais.

Nós, mulheres feministas, afirmamos: as mulheres não vão pagar por esta crise!

É urgente avançarmos na construção de alternativas socialistas a este modelo. Em vez dos agrocombustíveis e da privatização da natureza, defendemos mudanças na forma de produzir alimentos, a redução do padrão de consumo, e a produção descentralizada de energia. Afirmamos que os bens comuns de nosso território – incluindo a água, a biodiversidade e o petróleo encontrado na camada do pré-sal – são do povo brasileiro e devem ser utilizados para garantir desenvolvimento social e econômico de toda a população. A resposta à crise alimentar não pode vir dos transgênicos, e sim da reforma agrária, da produção agroecológica e da garantia de nossa soberania alimentar.

Por um mundo com igualdade para todas as mulheres!

Construir a igualdade em nossa sociedade passa por valorizar o trabalho das mulheres e garantir sua autonomia econômica. Assim, defendemos a valorização do salário mínimo e lutamos por um modelo de proteção social solidário , universal e inclusivo, com direito à saúde, assistência social e aposentadoria digna para todos e todas. Hoje, existem no Brasil mais de 40 milhões de pessoas fora da previdência social. Dessas, 30 milhões são mulheres. Por isso, somos contra a proposta do governo federal, em discussão na reforma tributária, de desvincular todo o sistema de seguridade social de suas fontes de financiamento. Isso resultará num corte de 40% no orçamento da seguridade social, que representa a perda de R$ 24 bilhões anuais no orçamento da previdência.

Para conquistar igualdade, é preciso ampliar os serviços públicos e realizar a reforma urbana. É preciso parar com a privatização de unidades de saúde e das creches municipais, impulsionadas pelos governos municipal e estadual da coligação DEM/PSDB.

Se o Estado não garante direitos sociais fundamentais como estes, aumenta o trabalho de cuidados com as pessoas, que é realizado cotidianamente por nós, mulheres. Lutamos para que esse trabalho seja dividido com os homens, e com a sociedade.

Queremos igualdade para todas as mulheres. Por isso, combatemos o racismo em todas as suas manifestações e a banalização da imagem da mulher veiculada na mídia. Essa imagem vendida pela indústria cultural contribui para mercantilizar nossas vidas e reflete a desigualdade e a violência que sofremos dia a dia.

Defendemos o controle social e a democratização dos meios de comunicação.

Em luta por autonomia e liberdade!

Vivemos um momento de criminalização das mulheres, no qual luta por nossa autonomia tem sido duramente atacada. Em vários estados, mulheres têm sofrido perseguições, humilhações e até condenações criminais por terem realizado aborto. No Congresso Nacional, está para ser instaurada uma CPI do aborto, cujo resultado trará apenas mais perseguição às mulheres.

A maternidade deve ser uma decisão consciente, não uma obrigação. Criminalizar o aborto não impedirá que ele aconteça. Pelo contrário. Manter o aborto na ilegalidade condena às mulheres pobres – sobretudo jovens e negras – a se submeterem à práticas inseguras para interromper uma gravidez indesejada.

Seguiremos nas ruas de todo o país, mobilizadas contra a criminalização das mulheres e pela legalização do aborto!

Denunciamos todas as manifestações de violência contra a mulher! No estado de São Paulo , o estupro é a segunda causa de morte (fonte : secretaria estadual de segurança pública). As mulheres têm o direito de viver uma vida livre de violência!

Em defesa da paz, da solidariedade e da soberania popular!

As guerras mantêm e aprofundam a desigualdade no mundo. Em situações de conflitos armados, as mulheres são vítimas de violações sistemáticas, físicas e psicológicas. Vemos hoje a feminização dos campos de refugiados. Por isso, somos solidárias a todas aquelas que vêem a soberania de seus povos atacada pelo imperialismo, seja na República Democrática do Congo, no Haiti e, sobretudo na Palestina. Ali, os bombardeios de Israel já deixaram milhares de mortos e feridos, em sua maioria mulheres, idosos e crianças. Nos somamos às vozes de todo o planeta contra o massacre da Palestina, indo às ruas no dia 30 de março expressar nosso repúdio ao governo de Israel.

Nos solidarizamos aos processos de construção de alternativas em curso na América Latina , que recuperam a soberania dos povos sobre seu território e seus recursos naturais. Estamos em luta por soberania dos povos, e liberdade para as mulheres!

Estamos todas nas ruas neste 8 de março confrontando o sistema capitalista e patriarcal que nos oprime e explora. Nas ruas e em nossas casas, nas florestas e nos campos, no prosseguir de nossas lutas e no cotidiano de nossas vidas, manteremos nossa rebeldia e mobilização.

(Concentração 10hs na Praça Oswaldo Cruz)

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

SÍ a Chávez y a la continuidad de la Revolución

Victoria popular en el Referendo. El primer mensaje que recibí fue el de Fidel, dijo el líder bolivariano ante la multitud en el Palacio de Miraflores.

CARACAS, 15 de febrero.C Con una contundente victoria del SÍ, la mayoría de los venezolanos decidió enmendar la Constitución y darle la oportunidad a todos los cargos electivos, incluido el presidente, de optar por nuevos mandatos y asegurar la continuidad a la Revolución bolivariana.

Con el 94,2% de las actas de escrutinio, el SÍ a favor de la enmienda constitucional recibió el 54,36% de los votos, 8,6% de ventaja sobre el NO, que alcanzó el 45,63%, según el reporte de Tibisay Lucena, presidenta del Consejo Nacional Electoral, sobre el resultado del referendo constitucional que tuvo lugar este domingo.

( Qué Viva la Revolución venezolana!, ( Qué viva el socialismo!, proclamó el presidente Chávez en sus primeras palabras ante la multitud que esperaba la proclamación oficial de los resultados ante el Balcón del Palacio de Miraflores.

A Esta victoria es tuya también Fidel, del pueblo cubano y de todos los pueblos de América Latina@ , dijo tras leer el mensaje del líder de la Revolución Cubana en que felicita a Chávez y a su pueblo A por una victoria que por su magnitud es imposible medirla@ .

Con estos resultados, el pueblo venezolano votó con la mira puesta en el 2012 cuando tendrán lugar las próximas elecciones presidenciales, en las cuales el mandatario bolivariano y otros cargos electivos no habrían podido ser candidatos por las limitaciones de la Constitución que hoy fue enmendada.

Orlando Oramas León

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

O real

Uma hora, ela perdeu a noção da realidade.
Tantas outras inventou para fugir da sua!
Inventou caminhos com curvas abertas e fechadas,
Serras, morros, ferrovias e rodovias.
Agora, ela não sabia mais voltar...

E se perdeu, então.
Já eram muitos os caminhos
Já não sabia qual era o real
Procurou, sem achar, coelhos, gatos, chapeleiros.
Não achou livros.

E pensou que talvez não houvesse apenas um caminho real.
Mas pensou que o ponto de partida, esse sim, ela perdera.
E dentre os caminhos que ela abriu
Nenhum levava de volta.
Nenhum.

Olhava, girava, procurava, se agitava.
Nenhum.
Qual?

Até que lhe veio a questão à mente...
Por que mesmo eu quero voltar?

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Uma senhora gentil - que se recupere logo.

O Juca é um companheiro do PT da zona sul. Eu o vi, hoje, se emocionar ao falar de uma senhora mineira que está muito doente, e que não tem ninguém por ela. Ninguém mesmo. E está bem doente. Juca disse a ela que trabalha com um vereador de São Paulo que é médico. Ela queria que o Juca levasse o Neder lá, porque ela nunca tinha conhecido um médico... e mandou, doce e gentilmente, uma cachaça mineira ao nosso companheiro parlamentar - e médico.

Hoje, abrimos a cachaça que foi presente dessa senhora para comemorar que o ex-vereador confirmou sua vaga na Assembléia Legislativa do estado. Ao som dessa história e defronte às lágrimas que o Juca derrubava ao dizer que ela está no hospital agora.

Tô contando isso aqui porque é inimaginável que uma senhora de 82 anos nunca tenha ido ao médico. Mas, ainda bem, é imaginável a generosidade de um Juca. E a simplicidade gentil e humana dessa senhora. Sei lá, histórias que dá vontade de contar. Elas devem ser milhões.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

PT contra a CPI do Aborto

Resolução contra a instalação da CPI do Aborto

O Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores, é contrário a CPI do Aborto e reafirma o compromisso de luta pela descriminalização do aborto e em defesa da igualdade e autonomia das mulheres sobre seu corpo e sua vida.

O Partido dos Trabalhadores - PT- em seu 3° Congresso Nacional, ao tratar deste tema definiu e aprovou a seguinte resolução: ´´defesa da autodeterminação das mulheres, da descriminalização do aborto e regulamentação do atendimento a todos os casos no serviço público evitando assim a gravidez não desejada e a morte de centenas de mulheres, na sua maioria pobres e negras, em decorrência do aborto clandestinos e da falta de responsabilidade dos Estados no atendimento adequado às mulheres que assim optarem.`` Tratar desse tema criminalizando as mulheres, impondo valores religiosos ou morais, é apostar no autoritarismo que queremos que não exista em nossa sociedade.

Brasília, 09 de fevereiro de 2009.

Diretório Nacional do PT

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

29 anos e muito mais por fazer

10 de fevereiro de 1980. Depois de mais de uma década de luta por liberdade e democracia, da resistência organizada pelos sindicalistas, pela juventude, pelas mulheres, pelos camponeses, pela Igreja progressista e tantos outros lutadores e lutadoras sociais, esses mesmos setores convergiam para uma mesma compreensão de que era o momento de construir um instrumento dos(as) trabalhadores(as) para organizar essa luta no período da redemocratização – afinal, ainda havia muito o que fazer.

Esse momento, essa convergência, essas lutas, essa vontade de olhar pro mundo com os olhos dos setores historicamente excluídos fez e faz do PT uma experiência ímpar na esquerda internacional. E é isso, ainda hoje, entre mais outros momentos, lutas e sonhos, que garante a atualidade do projeto do maior partido de esquerda da América Latina.

Hoje, o momento é muito outro. Enfrentamos uma década de neoliberalismo brabo, e nos pusemos a resistir. Vivenciamos a experiência de administrar cidades, pequenas e grandes, e construímos o modo petista de governar. Não sem contradições, afinal, por vezes, a experiência de governar e de disputar eleições mexeu com nosso caminho.

Depois de 13 anos – curioso, não? – o PT elegeu Lula para governar o Brasil. A campanha não foi como em 1989. O PT não era o mesmo, o Brasil também não. Dez anos de neoliberalismo tiveram duros impactos sobre ambos. E o nosso governo começou em meio a crises nossas, críticas nossas, receios e desconfianças. Nossos. Porque nós sabíamos da nossa vocação de construir mudança de verdade.

Cinco anos se passaram e nós nos orgulhamos do que o nosso governo tem pra mostrar. Sabemos das imperfeições, das disputas, das mil contradições. Sabemos que a política econômica não é a que queremos. Os meios de comunicação, nós os queremos democratizados. Não queríamos conosco os que, por ora, estão. Queremos democracia plena, democracia com participação. E tanto mais coisas, poderíamos fazer diferente. Mas não somos comentaristas da História. Fundamos o PT para fazer exatamente o oposto disso, foi pra ser protagonista.

Se formos falar de ações de governo, podemos dizer que Lula entregará ao Brasil um Brasil que o Brasil nunca tinha sido. A valorização do salário mínimo, a política internacional, o caminho que tomamos na direção de uma efetiva inversão de prioridades, o investimento público nas coisas que são públicas. Não é o suficiente. Mas muito caminhamos.

10 de fevereiro de 2009. O PT é mais que o Governo Lula, há que se lembrar. Nesses 29anos, o partido cresceu muito. Em número de filiados(as), de administrações municipais, estaduais, em presença nos movimentos sociais. Não pode diminuir as suas bandeiras, e nem pode perder a capacidade de encantar as pessoas pela luta. Nossos percalços foram muitos, e alguns persistem. Às vezes, um ou outro deles afasta pessoas de nós. Cabe a nós a responsabilidade histórica de saber superar os percalços, saber manter os lutadores e lutadoras conosco, e apontar com convicção o outro mundo possível que queremos e estamos construindo. Ele não se faz só nos governos. Ele se faz na luta do dia-a-dia. É preciso tomar partido sempre... porque, afinal, ainda há muito mais por fazer.

"Se muito vale o já feito, mais vale o que será"

Aos 29 anos do PT.

O que foi feito deverá

(Milton Nascimento)

O que foi feito, amigo,
de tudo o que a gente sonhou?
O que foi feito da vida,
o que foi feito do amor?
Quisera encontrar aquele verso menino
Que escrevi há tantos anos atrás.
Falo assim com saudade,
falo assim por saber:
Se muito vale o já feito,
mais vale o que será.
Mais vale o que será.
E o que foi feito é preciso
conhecer para melhor prosseguir.
Falo assim sem tristeza,
falo por acreditar
Que é cobrando o que fomos
que nós iremos crescer.
Nós iremos crescer.
Outros outubros virão,
outras manhãs, plenas de sol e de luz.
Alertem todos os alarmas
que o homem que eu era voltou
A tribo toda reunida,
ração dividida ao sol
E nossa Vera Cruz,
quando o descanso era a luta pelo pão
E aventura sem par
Quando o cansaço era rio
e rio qualquer dava pé
E a cabeça rolava num gira-gira de amor
E até mesmo a fé, não era cega nem nada
Era só uma nuvem no céu e raiz.
Hoje essa vida só cabe
na palma da minha paixão
Devera nunca se acabe,
abelha fazendo seu mel.
No pranto que criei,
nem vá dormir como pedra e esquecer
o que foi feito de nós.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O céu e o vulcão

O cenário: o céu, cinco minutos antes da tempestade.
O personagem: um vulcão a 5 minutos da erupção.

Acrescente-se cerveja a gosto.
Imagine se pode dar certo.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

As mulheres, os negros e os jovens não podem pagar pela crise.

Há poucos dias, a Folha deu uma matéria que afirmava que os principais atingidos pelos efeitos da crise econômica internacional são as mulheres, os negros e os jovens.

Para a gente, não há novidade nisso. Em qualquer crise, são aqueles e aquelas que estão em posição de mais vulnerabilidade os que pagam por ela.

No caso das mulheres, sabe-se que elas são maioria entre os trabalhadores informais. Sabe-se que elas são maioria entre os desempregados, embora estudem, em média, mais tempo que os homens. Sabe-se que elas recebem, em média de 66 a 70% dos salários dos homens – por trabalho igual. Sabe-se que elas é que ocupam os postos de trabalho mais desvalorizados do mercado, que estão mais excluídas da previdência social, e que são maioria esmagadora entre os mais pobres dos pobres. Eu não to “chutando” dados. É só olhar no Dieese, no IBGE, na PNAD, etc.

E os empregos que têm sido gerados, onde estão? Pra quem são? Em que setor?

Esse assunto é estruturante da desigualdade entre homens e mulheres. Combater a opressão deve ter tudo a ver com desconstruir essa realidade.

***
O 8 de março vem aí...

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Adão Pretto... presente.


Hoje é um dia triste. Não só pro PT, não só para os lutadores e lutadoras do campo brasileiro, não só pro Rio Grande do Sul, nem só pro Brasil. Perder Adão Pretto é triste até pra quem nem sabe que ele viveu. Perdemos mais um guerreiro do povo, das lutas, do barro, da terra. Mais um que fazia diferença na nossa caminhada suada por justiça e igualdade. Pelo socialismo.

A primeira coisa de que lembrei nesta triste manhã foi dos tempos de movimento estudantil, quando, em Brasília, o deputado Adão Pretto freqüentemente cedia seu apartamento para a militância jovem se alojar, se reunir, produzir. Eu lembro da sensação de perceber que ele era um de nós, embora deputado. E que isso não significava mais do que alguém que usa o espaço do parlamento pra fazer a mesma luta que eu fazia nas salas de aula. Essa percepção é tão importante, e é tão presente na figura simples e generosa de Adão, que até hoje eu não entendo por que será que nem todo mundo é assim.

Hoje o post é triste. Não dá pra ser diferente. Mas pra ficar mais bonito, peço emprestado ao meu amigo Rolan Crespo um poema que ele escreveu sobre o MST, para que eu possa homenagear esse companheiro que segue presente nas nossas lutas e na mística das nossas lutas.


Falando sério...
Rolan Crespo, em 22.10.08

Dando porrada no escuro
Mas se mantém de pé
Tem o andar sereno,
Não pede perdão,
Não ajoelha no chão
Não baixa o olhar

Ergue o punho fechado
E canta uma canção:
Louva os oprimidos
Os sem terra
Os sem pão

Louva os que têm os pés cansados
De amassar barro nas estradas
Louva o grito ardente que clama pela terra
Louva os que vêem o futuro com grandeza

O novo virá diante de tanta miséria,
tanta pobreza, tanta fome, tanta humilhação.
E nossas vozes roucas cantarão
Aos que transformam o suor na água de irrigação,
o sangue no adubo das plantações
e a lágrima no riso alegre da colheita.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Todas as armas, todas as forças

Tem dias que a vida da gente parece mais frágil do que sempre foi e sempre vai ser. E dá uma angústia tremenda de não ter controle sobre isso, ainda mais quando não é com a gente. Daí só resta à gente, que é ateu ou atéia, se apegar ao fato de que sempre é possível sair das adversidades, e há muitos casos na história da humanidade que atestam isso.

Mas dá muita vontade de pedir a quem acredita pra rezar pelos nossos...


***
"Na luta de classes,
todas as armas são boas:
pedras,
noite
e poemas."

(Leminski)

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Declaração da Assembléia de Mulheres - FSM 2009

Belém, 1 de fevereiro de 2009

No ano em que o FSM encontra-se com a população da Pan-Amazônia, nós mulheres de diferentes partes do mundo, reunidas em Belém, afirmamos a contribuição das mulheres indígenas e das mulheres de todos os povos da floresta como sujeito político que vem enriquecer o feminismo a partir da diversidade cultural de nossas sociedades e conosco fortalecer a luta feminista contra o sistema patriarcal capitalista globalizado.

O mundo hoje assiste a crises que expõem a inviabilidade deste sistema. As crises financeiras, alimentar, climática e energética não são fenômenos isolados, mas representam uma mesma crise do modelo, movido pela superexploração do trabalho e da natureza e pela especulação e financeirizaçã o da economia.

Frente a estas crises não nos interessam as respostas paliativas e baseadas ainda na lógica do mercado. Isto somente pode levar a uma sobrevida do mesmo sistema. Precisamos avançar na construção de alternativas. Para a crise climática e energética, negamos a solução por meio dos agrocombustíveis e do mercado de créditos de carbono. Nós, mulheres feministas, propomos a mudança no modelo de produção e consumo. Para a crise alimentar, afirmamos que os transgênicos não representam uma solução. Nossa proposta é a soberania alimentar e a produção agroecológica. Frente à crise financeira e econômica, somos contra os milhões retirados dos fundos públicos para salvar bancos e empresas. Nós mulheres feministas reivindicamos proteção ao trabalho e direito à renda digna.

Não podemos aceitar que as tentativas de manutenção desse sistema sejam feitas à custa de nós mulheres. As demissões em massa, o corte de gastos públicos nas áreas sociais e a reafirmação desse modelo produtivo afeta diretamente nossas vidas à medida que aumenta o trabalho de reprodução e de sustentabilidade da vida.

Para impor seu domínio no mundo, o sistema recorre à militarização e ao armamentismo; inventa confrontações genocidas que fazem das mulheres botim de guerra e sujeitam seus corpos à violência sexual como arma de guerra contra as mulheres no conflito armado. Expulsa populações e as obriga a viver como refugiadas políticas; deixa na impunidade a violência contra as mulheres, o feminicídio e outros crimes contra a humanidade, que se sucedem cotidianamente nos contextos de conflitos armados.

Nós feministas propomos transformações profundas e radicais das relações entre os seres humanos e com a natureza, o fim da lesbofobia, do patriarcado heteronormativo e racista. Exigimos o fim do controle sobre nossos corpos e sexualidade. Reivindicamos o direito a decidir com liberdade sobre nossas vidas e territórios que habitamos. Queremos que a reprodução da sociedade não se faça a partir da superexploraçã o das mulheres.

No encontro das nossas forças, nós nos solidarizamos com as mulheres das regiões de conflitos armados e de guerra. Juntamos nossas vozes às das companheiras do Haiti e rechaçamos a violência praticada pelas forças militares de ocupação. Nossa solidariedade às colombianas, congolesas e tantas outras que resistem cotidianamente à violência de grupos militares e das milícias envolvidas nos conflitos em seus países. Nossa solidariedade com as iraquianas que enfrentam a violência da ocupação militar norte-americana. Nesse momento em especial nós nos solidarizamos com as mulheres palestinas que estão na Faixa de Gaza, sob ataque militar de Israel. E nos somamos a todas que lutam pelo fim da guerra no Oriente Médio.

Na paz e na guerra nos solidarizamos às mulheres vitimas de violência patriarcal e racista contra mulheres negras e jovens.

De igual maneira, manifestamos nosso apoio e solidariedade a cada uma das companheiras que estão em lutas de resistência contra as barragens, as madereiras, mineradoras e os megaprojetos na Amazônia e outras partes do mundo, e que estão sendo perseguidas por sua oposição legítima à exploração. Nós somamos às lutas pelo direito à água. Nós nos solidarizamos a todas as mulheres criminalizadas pela prática do aborto ou por defenderem este direito. Nós reforçamos nosso compromisso e convergimos nossas ações para resistir à ofensiva fundamentalista e conservadora, e garantir que todas as mulheres que precisem tenham direito ao aborto legal e seguro.

Nos somamos às lutas por acessibilidade para as mulheres com deficiência e pelo direito de ir e vir e permanecer das mulheres migrantes.

Por nós e por todas estas, seguiremos comprometidas com a construção do movimento feminista como uma força política contra-hegemô nica e um instrumento das mulheres para alcançar a transformação de suas vidas e de nossas sociedades, apoiando e fortalecendo a auto-organizaçã o das mulheres , o diálogo e articulação das lutas dos movimentos sociais.

Estaremos todas, em todo o mundo, no próximo 8 de março e na Semana de Ação Global 2010, confrontando o sistema patriarcal e capitalista que nos oprime e explora. Nas ruas e em nossas casas, nas florestas e nos campos, no prosseguir de nossas lutas e no cotidiano de nossas vidas, manteremos nossa rebeldia e mobilização.