segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Entre a fantasia e a realidade


Os olhos inundados de sonhos
As mãos lavadas de vida real
Vem ele pela rua de asfalto
Como se andasse de pé na grama

Os pés não estão no chão
Não há música ao redor
Ele não sabe dançar
Mas dança.

A brisa não chega ao rosto
O tempo não cede à pressão
Ele não sabe gostar
Mas gosta.

Os olhos têm a profundidade do sempre e do nunca mais
Do desejo irrequieto
Das vontades passageiras contrariadas
Da dança
E do gosto.

Da janela do ônibus, seu olhar se atira
Se lança para a imensidão
Como quem vê muito além da paisagem mais próxima
Certeiro, com rumo
Vagando sem medo

Nas páginas de seus livros
Há a terra do chão,
As pedras do caminho,
A areia que sobra
De tudo que é real.

Mas o olhar guarda o que o real não alcança
Extrapola
Não se perde porque se encontra
Num mergulho.

O trabalho
O outro trabalho
O trajeto
O médico aonde levar o avô.

De tudo se faz espelho
O negro límpido dos olhos
Que se jogam pro mundo
Cantarolantes e serenos.

Monossílabos,
Vocativos,
Interjeições.

O olhar se mantém
De folha em branco
De pé na estrada.
A profundidade atraente do mar à noite.

Eu observo
Como puxada pelo mar
E dispara o alarme
Que há muito calara

Porque é lindamente esquisito
Que alguém transpareça tão vividamente
O sonho e a realidade
E seja, ele mesmo,
A síntese do que não se vê.

Não sei bem se eu o conheci
Ou o inventei
Mas, de uma forma ou de outra,
Ele existe
E isso é muito confortante.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Para nunca esquecer



Hoje, 10 de dezembro, é Dia Internacional dos Direitos Humanos. O rosto de Alexandre Vannucchi Leme neste post é para lembrar os tantos mortos, desaparecidos e torturados que a ditadura militar brasileira fez impunemente. Para lembrar que a gente ainda não sabe tudo que aconteceu. Para lembrar que muitas famílias ainda não têm notícias de seus filhos e filhas, ou pais ou mães. Para lembrar que não nos deixam saber. Para lembrar. Para nunca esquecer.

O Alexandre foi estudante de Geologia da USP, dá nome ao DCE da universidade, cuja direção tive o orgulho de integrar. Ele foi morto em março de 1973, era militante da ALN (Ação Libertadora Nacional).

Nunca vou esquecer a carta que os pais dele enviaram ao nosso DCE, aos 30 anos da sua morte, na ocasião de um evento, organizado por nós, que visava a justamente isso: não esquecer. Entre muita coisa profundamente tocante que a carta continha, eles nos pediram: "levem nos seus sonhos os sonhos dele".

Fiquem tranquilos, pais do Alexandre. Até hoje e para sempre, os sonhos dele são os meus. E nós nunca deixaremos esquecer.

sábado, 24 de novembro de 2012

As coisas como elas não são



Os grandes consensos são estúpidos, estúpidos. Essa história de ver sempre as coisas como elas são. Pois eu fico com outra lógica. Gosto das coisas como elas não são. Criei lentes especiais para ver o mundo. Vejo sorrisos onde há desprezo. Vejo flores em quem eu quiser. Vejo, onde há um caminho, quatro ou cinco diferentes. E onde há 50 mil pessoas, vejo só quem eu quero ver.

As coisas como elas não são têm a poesia da expectativa realizável. A minha vontade de que seja assim não cria uma mentira, mas uma verdade que ainda não aconteceu. Uma verdade ansiosa, que extravasa os limites da realidade só para embelezar os arredores. A verdade mais verdadeira que há está na felicidade das coisas que eu inventei.

Não quero as coisas como elas são. Acordo todos os dias para fazer com que elas sejam o que não são.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Procura-se


Procura-se uma notícia boa
Uma forma de continuar
De não permanecer

Procura-se um sorriso escapado
Um olhar de carinho
Um dia de sol sem trabalho

Procura-se a leveza
A delicadeza
Procuram-se flores que botem cores no caminho

Procura-se um caminho

Procura-se um afago descompromissado
Uma espreguiçada

Procura-se a correspondência perdida no canto
Procura-se o canto
Procura-se o sentido

Procura-se a cidade
A imagem
A coragem
A viagem
A mensagem

Procura-se a leitura
Procura-se a visão
A vista

Procura-se uma forma de não aceitar
De se indignar
De se levantar

Procuram-se as consequências

Procura-se o caos

Procura-se analgésico
Anestésico
Sonífero

Procura-se o túnel
A caverna
A montanha mais alta
De onde se possa jogar um quilo e meio de dor
E depois deixar o corpo descer rolando até o mar

Procura-se o mar

Procura-se um planeta

E se nada disso puder ser encontrado, então viverei a busca eterna debaixo de uma sombrinha vermelha, estampada por bolas de futebol e claves de sol.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O ódio, a náusea e uma flor para romper o asfalto


Nos 110 anos de Drummond e nos 3 dias da eleição de Fernando Haddad em São Paulo.
***

Eu me lembro bem da eleição da Erundina, em 1988. Tinha 9 anos. Ela era a terceira colocada nas pesquisas, mas surpreendeu e superou Paulo Maluf (na época, no PDS, a velha Arena da ditadura) e João Leiva (que era do PMDB do então governador Quércia). Uma mulher paraibana foi a segunda a chefiar a Prefeitura da maior cidade do Brasil depois do regime militar, época de prefeitos biônicos.

Depois dela, vieram 8 anos de malufismo. Primeiro, o próprio. Depois, seu sucessor, Celso Pitta, cassado por corrupção. A crise na cidade somou-se a outros fatores da conjuntura - inclusive, nacional - e abriu espaço para uma nova liderança que se projetava, Marta Suplicy. Em 2000, ela venceu as eleições e foi a segunda prefeita do PT em São Paulo. Dos quatro anos que se sucederam, eu me lembro perfeitamente bem. A criação do bilhete único, os corredores de ônibus, os CEUs na educação municipal, a política habitacional avançadíssima, políticas para as mulheres, para a juventude, combate ao racismo e à homofobia. Foi um baita governo.

Em 2000, aliás, o Governo Federal do PSDB comemorava 500 anos do "descobrimento" do Brasil, como quem passa asfalto sobre a nossa história. Afinal, nesses 500 anos, eram eles legítimos representantes dos que sempre mandaram e desmandaram no país, desde D. Pedro I, desde antes. Definiram que o Brasil estava fadado a ser dependente, que Universidade não era para todo mundo mesmo, que nem todo lugar poderia ter energia elétrica mesmo, que o latifúndio era a única forma de produção mesmo. Asfaltaram esse caminho e seguiram. Mas veio 2002.

Em 2002, José Serra foi o porta-voz do projeto político que propunha o tédio para o Brasil. Vamos continuar onde sempre estivemos, não há por que mudar. O caminho está asfaltado e nós estamos percorrendo. Nada de novo pode acontecer. Não há esperança. Precisa haver medo de mudar. E tédio para continuar.

Mas ele perdeu. Finalmente, ganhávamos a Presidência da República.

Em 2004, não conseguimos reeleger Marta em São Paulo, mesmo com a periferia ao seu lado. E lá veio o Serra com seu tédio. Não terminou seu mandato, virou governador, não terminou seu mandato, tentou ser presidente de novo, perdeu.

Quis voltar à prefeitura agora, em 2012. Depois de ter deixado a cidade com Kassab e, assim, contribuído para a criação de mais esse ilustre personagem do cenário político nacional, o homem ainda quis voltar. O Maluf, quando quis voltar depois do Pitta, disse que só ele poderia consertar a cagada que ele mesmo fez. Pelo menos, era engraçado. O Serra nem isso.



E aí vem o ódio. Esse ódio que começou a ser cultivado em 2002. Ódio que, em 2004 em São Paulo, quando da nossa derrota, fazia alguns dizerem que pobre não sabe votar. O ódio expresso na fala de Borhausen em 2005, que anunciava que se livrariam da "nossa raça" por 30 anos. O ódio que eu sentia nos bairros de classe média em São Paulo, quando fazia campanha para Lula e Mercadante em 2006. Chamavam-nos de ladrões, faltava cuspir-nos na cara. Esse ódio que se travestiu de fé cristã e permeou todinha a campanha do Serra em 2010. E em 2012.

Esse ódio praticado por pessoas que me acusam de mensaleira sem me conhecer, mas não sabem o que é o tal processo do mensalão, nem fazem ideia. É um ódio que tá nos olhos e na boca de gente que dirige agressões e ofensas a amigos e amigas que tenho, que votaram e apoiaram Haddad. Ódio transbordado de pessoas que dizem que o socialismo mata e o capitalismo salva, pessoas que não conhecem bem a história e costumam reproduzir acriticamente ideias vagas e deturpadas sobre países, eventos, conceitos, políticas. Ódio que percorre as palavras de imbecis do naipe de Azevedo, Mainardi, Pondé, Jabor, Waack.

O ódio contra o PT não é pelos seus erros. É pelos seus acertos.

Não devolvo com mais ódio. Fico com um certo nojo, confesso. Chega a dar enjoo. Ouvi e li cada coisa nos últimos dias pré-eleição em São Paulo, bem como nestes poucos dias pós-eleição, que me fez ter vontade de vomitar. Agressões, ofensas, preconceitos de toda sorte. Não devemos seguir até o enjoo total, mas nem vomitar nossas palavras sobre quem jamais as aceitaria. Melhor traduzir esse nojo numa sonora gargalhada comemorativa: nós vencemos.

Na disputa de projetos em São Paulo, venceu o PT. E venceu para executar sua vocação transformadora, para peitar as desigualdade históricas, como fizeram Erundina e Marta. Para olhar para as periferias com respeito, não com clientelismo-coronelista. Para fortalecer os serviços públicos. Para que nunca mais se admita que uma pessoa seja agredida ou morta na rua por exercer sua livre orientação sexual. Essa é a nossa flor: o nosso programa de mudança.

Uma flor nasceu na rua! E ainda que a execução desse programa acentue o ódio de classe em alguns, que sempre nos odiarão por termos questionado sua propriedade sobre nossa cidade e nosso país, que sempre nos odiarão por termos retirado-lhes o poder que pensaram ser exclusivo deles, que sempre nos odiarão porque, sob nossos olhos, não poderão saquear o povo brasileiro como sempre fizeram (e ainda querem vir falar de mensalão)... Ainda assim, muitos outros e outras se encantarão. A flor é nossa arma para esse encantamento. A massa cheirosa vai ficar isolada, vendo passar na avenida Paulista um samba popular.

Se a esperança pôde vencer o medo, o que poderia vencer o ódio? Essa flor nossa. Ela é capaz de furar o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.



***
Muito feliz por ter visto a vitória de Fernando Haddad domingo em São Paulo. Gargalhando para curar a náusea e cultivando flores para vencer o ódio.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Em branco


Que aflição me dá uma folha em branco.
São as histórias que não escrevi as que mais me doem.
Histórias prontas, que não se movem
Não saem pro mundo
Não têm lugar.

Irreais, fictícias, covardes.
As histórias que não se deixam escrever
Que perturbam o sono
Sem saírem do corpo
Sem se estenderem para fora.

Há muito, há muito a fazer
E a gente se preocupando
Com o que não fez.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Ode à Pedra


Eu tenho uma pedra
Amiga dura
Cabeça-dura
Firme e cinza
Pedra, como se fazem as pedras
Que ocupam espaço
E que não rolam por aí.

Pedra que se apedreceu
Não precisa de bons motivos
Só está lá
Porque sim

Tentaram roubar-me a pedra
Tirá-la do lugar

Não deixo.
A pedra, minha pedra assimilada.

Deixem-me em paz com a minha pedra.
Ou deixem-nos as duas na guerra.
Tenho a pedra que me arma e me defende.

Mas não a atiro.
Nunca!
Junto as que caem sobre mim
E monto um castelo de pedras.

Porque a pedra
Esta pedra minha
Gentilmente apanhada
Cultivada
Arraigada
É o que há de concreto
Entre tudo o que havia
No meio do caminho.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Mariana


Mariana fugiu
Para dentro de si
Navegou-se até aportar
Na lagoa

E na calmaria das águas claras
Inventou a escuridão
Para melhor se enxergar

Até achar o vendaval
Em si,
Que era mar

Voou para longe do vendaval
E nunca mais se encontrou.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

A 10 dias das eleições, minha sugestão de voto em Porto Alegre


Moro em Porto Alegre porque sempre gostei da cidade. Quando eu só a visitava como amiga, antes de virar filha adotiva, me encantei pela cor vermelha da capital gaúcha.

Tem vermelho nos pôres-de-sol avistados desde a orla do Guaíba. Tem vermelho nos lenços amarrados nos pescoços, representando o orgulho de sua cultura e de sua história. Tinha vermelho na política, ousada e criativa: a participação popular, o internacionalismo, a intensa solidariedade. A defesa de ideias tão defensáveis, tão cativantes. A integridade vermelha. Essa integridade tem representantes, tem herdeiros. Eu não tenho outro sonho pra sonhar, o meu sonho se esvai pro mundo por meio do mesmo instrumento que escolhi quando comecei a militar. O PT é o guarda-chuva de tudo isso.

O JUBERLEI BACELO tem tudo a ver com a realização da minha vontade de viver em Porto Alegre. Fui jornalista do SindBancários quando ele era seu presidente. Cobri o "passeatão" que abria a greve, logo que cheguei, e me emocionei. O Juba representava tão bem a beleza daquele movimento, que suas palavras no carro de som compunham a paisagem da cidade vermelha, misturada com as bandeiras, aquelas centenas de trabalhadores na rua e aqueles que, de dentro dos prédios, acenavam e aplaudiam.

É um grande líder por isso, mas por bem mais coisas. Só um grande líder não perde a capacidade da solidariedade, de ter atenção a todos à sua volta. De se sentir um de nós e sê-lo. De ser batalhador incansável, sem medo de perder e com muita vontade de vencer.

É por ter muita confiança política e pessoal nesse companheiro, em sua trajetória e, principalmente, no seu presente, que escrevi esta cartinha para sugerir aos amigos e amigas porto-alegrenses que conheçam o JUBERLEI 13.300, que votem no JUBERLEI 13.300 e que nos ajudem a colocar na Câmara Municipal essa figura tão cheia de qualidades que dá sentido ao que vim buscar na minha cidade vermelha.



Facebook: Juberlei13300
Conheça o site da campanha aqui.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Desventura

Um pequeno e sensível poema da minha amiga Chris, Christine Rondon, que se inspirou numa desventura minha para me presentear com palavras doces e tranquilizantes até. Em meio à reta final das eleições municipais, à grande manifestação de Madri, às tentativas de sufocar a Cidade Baixa e emudecer nosso canto, em meio ao fardo pesado do dia-a-dia... Sempre bem-vindo um belo poema. Como ele é meu - já que ganhei! -, batizei-o de "Desventura".


***
Desventura

Ninguém? Julgas que mais ninguém?
Pois te digo que há alguém, e digo-te quem:
Um certo moço, que anda por aí
Sem saber de mim, sem ser de ninguém...

Era um moço de uns trinta anos
Sem nome, aliança ou endereço
E de tanto olhá-lo mal posso dizê-lo
Em sua completa ventura
E minha desventura de não tê-lo.

Era um moço de olhos pequenos
Pele perfeita, como se nem fumasse
E de tudo era ele a própria fumaça
Que se esvaía, penetrava, meu veneno
Que atiçava e aumentava a desventura de não tê-lo.

A boca era o prenúncio da loucura
Os olhos, da perdição, pressentimento
Deixava minhas vontades todas nuas
Nesse jogo de recuos fraudulentos
... Que amalgava a desventura de não tê-lo.

Ninguém mais, julgaria eu também
Não fosse esse moço pilchado, desatento
Que não cuidou que minha pressa o precedia
No desespero de cada minuto em que rompia
A minha completa ventura de não tê-lo.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Catalunha, novo Estado da Europa

Sei que, no dia de hoje, a esquerda brasileira lembra o 11 de setembro de Salvador Allende. Não por solidariedade ao povo chileno apenas, mas porque essa é a nossa história também. Certa de que me sentirei contemplada nessa memória coletiva, peço licença para falar de uma outra luta que tem lugar neste dia: o Dia Nacional da Catalunha.


Os(as) internacionalistas têm a defesa do direito de autodeterminação dos povos no seu gene. Este não é um caso diferente. A identidade catalã vem, há muito, sendo reprimida pela noção de unidade espanhola, repressão essa que não se restringe ao âmbito cultural, mas, por diversas vezes, estendeu-se às vias militares (a ditadura de Franco representou o massacre da Catalunha, por exemplo).

Hoje, os catalães celebrarão sua identidade, e seu desejo de serem um povo soberano. Minha solidariedade a eles, eu expresso da tradução do texto abaixo, de autoria do Col-lectiu Emma.




Uma manifestação diferente no Dia Nacional da Catalunha
Nota sobre a marcha de 11 de setembro em Barcelona

(tradução de Alessandra Terribili da versão em espanhol)


Em 10 de julho de 2010, centenas de milhares de catalães – um povo pouco dado a levantar a voz – saíram às ruas numa manifestação política realmente massiva. A causa imediata era que a Espanha acabava de formalizar sua rejeição ao Estatuto ratificado pelo Parlamento Catalão, aprovado em referendo quatro anos antes. Naquele momento, a revisão do marco legal que regulava o autogoverno foi vista pela Catalunha como uma proposta leal de acordo político dentro da estrutura do Estado. Contudo, em 2010, muitos já davam como impossível esse acordo, e por mais que, oficialmente, não se tratasse de uma manifestação pela independência, esse foi, precisamente, o grito que mais se escutou nas ruas de Barcelona naquele dia.

Dois anos depois, quando os catalães se preparam para celebrar seu Dia Nacional em 11 de setembro, as coisas não melhoraram, em absoluto, e não só pela situação deplorável da economia. É certo que as medidas que o governo espanhol tomou para gerir a crise financeira levaram à defesa da independência muitos que ainda tinham dúvidas, mas o descontentamento catalão é mais profundo. À asfixia a que conduz a atuação espanhola nos âmbitos econômico e político, soma-se um recrudescimento dos ataques contra todos os componentes da identidade nacional catalã. Isso faz imprescindível – e urgente – que os catalães assumam o controle de seu próprio futuro.


Este ano, a manifestação de 11 de setembro terá um lema bem claro: “Catalunha, novo Estado da Europa”. Os participantes cruzarão a cidade até chegar ao Parlamento, onde uma delegação será recebida por sua presidenta. Embora se trate essencialmente de uma iniciativa da sociedade civil, diversos grupos políticos apoiam a manifestação. Alguns líderes e representantes políticos virão a ela com seus partidos, entre eles, o CDC [Convergència Democràtica de Catalunya], um partido moderado de centro-direita que é sócio majoritário da coalizão que governa o país. Muitos outros irão como cidadãos privados, a despeito das ressalvas que suas organizações expressaram. O presidente Artur Mas [presidente da Generalitat, ou seja, do Governo da Catalunha] anunciou que não assistirá, mas o mero fato de haver considerado essa possibilidade – ou alguma outra forma de manifestar seu apoio – é uma demonstração do caminho que a ideia da independência percorreu em poucos anos. Efetivamente, as pesquisas indicam que, se hoje houvesse um referendo sobre a separação da Espanha, essa seria a opção de mais da metade dos votantes, enquanto somente um quinto deles seria contra.

Cada vez mais catalães tomam consciência do dano irreversível que a Espanha está cometendo contra sua economia e sua população, e muitos já não creem que se possa chegar a um acordo com o Estado. Assim, nesta ocasião, não sairão às ruas para reclamar um tratamento justo por parte do governo central, nem para protestar por sua última negativa ou falar da questão; na realidade, o governo espanhol não tem papel algum nesse ato. Em 11 de setembro de 2012, os catalães exigirão diretamente de seus líderes que iniciem o caminho à plena soberania.


***
Que um lindo sol vermelho brilhe hoje no céu de Barcelona.



terça-feira, 4 de setembro de 2012

Eu sei que vou


Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua
A cada não olhar
A cada despedida, eu vou chorar
Ao contemplar a lua, eu vou lembrar
As não esquinas
As idas e vindas
A minha sina

E cada volta tua
Não há de apagar
Nem remediar,
Anestesiar
Qualquer dor ou soluço
O controle do impulso
O não ficar

Eu sei que vou
Porque sempre fui
Porque sempre estou
Nos versos não escritos
Na pressa do infinito
Nas ondas de calor
Na não chuva
No não amor
No nunca fim
No sempre assim

Eu sempre sou
Porque essa espera
Já se misturou no sangue
É parte de mim

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Lista de Presentes


Eu queria um dia de sol, já ganhei.

Eu queria cantar, vou cantar. Estar bem acompanhada, estarei.

Quero música, sorrisos, risadas, cerveja gelada, amigos e esperança. Não preciso de mais do que isso.

Quero que o Barça dê show, que o São Paulo me encante, quero continuar tendo ideias loucas, quero abrir caminhos, quero oxigênio, ar, quero criar, quero deixar fluir. Quero a força do mar de Iemanjá, com a generosidade e a profundidade junto.

Quero ajudar a eleger o Juba e o Villa, porque acredito nesse projeto, porque sempre admirei Porto Alegre pelos tons de vermelho que são parte intrínseca dela - e ninguém lhe rouba. Quero porque tenho esperança - e ninguém me rouba.

Quero comemorar em São Paulo e em Brasília, e vou. Quero buscar pedaços do meu coração em Fortaleza, Rio de Janeiro, Salvador, Barcelona, em tanto lugar, em todo o mundo. Eu vou.

Quero merecer tudo isso.

E como na música do Zeca Baleiro, "se é assim, quero sim, acho que vim pra lhes ver". Quero a companhia dos amigos e amigas portoalegrenses nesta noite, lá no Comitê. E aí, parafraseando, agora, Victor Hugo, "não terei mais nada a desejar". Beijos, meus queridos e minhas queridas. Agradeço pelas mensagens de carinho.




quinta-feira, 12 de julho de 2012

Prostituição: Por um debate livre da moral machista

Texto meu de um tempão atrás, alguns aninhos. Infelizmente, não perdeu a atualidade. Agora, é Jean Willis (PSOL-RJ) a querer recuperar essa ideia de que a prostituição é eternamente uma saída para as mulheres. Uma lástima.

Prostituição: Por um debate livre da moral machista


Nós, feministas do PT, cansamos de ouvir argumentos conservadores (para dizer o mínimo) para tentar justificar ou atenuar o machismo presente em nosso cotidiano ainda hoje – inclusive no cotidiano militante. Um discurso tão falacioso quanto comum é o que afirma que as mulheres já conquistaram seu espaço, que já há igualdade e que o machismo é coisa do passado. Como se mesmo entre nós não houvesse expressões clássicas do machismo que permeia as relações sociais desiguais entre homens e mulheres.

Acontece que, infelizmente, a igualdade ainda não existe, e é a busca dela que movimenta o feminismo. As relações entre homens e mulheres são relações de poder. Para desenvolver qualquer análise e qualquer luta da esquerda, é preciso partir daí: a necessidade de construir igualdade entre homens e mulheres como um pressuposto da luta socialista.


É sob esse prisma que queremos apreciar o projeto de lei 98/2003, de autoria do deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), que legaliza a prostituição no Brasil, e que conta com a simpatia de alguns parlamentares petistas. Para nós, mulheres petistas, o que importa é construir um debate político numa perspectiva feminista, para que tenhamos um posicionamento claro de enfrentamento ao machismo e à opressão, na sua totalidade.

O absurdo projeto

Ao contrário do que o discurso pseudo-libertá rio que justifica a apresentação do projeto quer afirmar a proposta contida nele é altamente conservadora. Ao fim e ao cabo, trata-se de permitir que se explore e se abuse de mulheres dentro de algumas condições. Trata-se de regulamentar que mulheres permaneçam na condição de objeto ou coisa a ser possuída, sem o direito elementar de dispor de seu próprio corpo. Os supostos defensores da superação da hipocrisia acabam sendo, na realidade, porta-vozes da exploração e da rendição à opressão sexual.


O conteúdo do projeto de lei não lida com direitos das pessoas prostituídas, e sim, regulamenta o comércio e libera os negócios dos empresários do sexo, já que retira do Código Penal os artigos que criminalizam os agenciadores. E alguém aqui acha que prostituição é profissão livre e autônoma, como qualquer trabalhador ou trabalhadora do setor de serviços? Ou conhecemos a realidade de que, quase sempre, trata-se de mulheres exploradas por um “cafetão”, ou em situações mais drásticas, mulheres que se prostituem por um prato de comida ou por um real na beira das estradas ou em cinemas pornô do centro de São Paulo. Sem falar em pais que prostituem as filhas. É preciso encarar a realidade de que a maioria das prostitutas não tem nenhuma autonomia sobre seu “serviço” ou sobre sua sexualidade, e muitas delas são vítimas freqüentes de violência.


E ainda há o tráfico de mulheres, situação favorecida pelo projeto em questão. Milhares de mulheres migram do hemisfério sul para se prostituírem no hemisfério norte. Os países mais pobres “exportam” mulheres para o primeiro mundo, reservando-lhes uma vida de escravização que, na grande maioria das vezes, elas não se propunham a levar. O tráfico de mulheres é organizado nacional e internacionalmente. São organizações criminosas, e quem lucra com isso são homens que exploram mulheres.


Tentar diferenciar “prostituição livre” de “prostituição forçada” é um absurdo do tamanho da violência que essa situação representa. É falso pintar de libertário o discurso de defesa da regulamentação da prostituição. Estamos falando da manifestação mais extrema das relações de poder entre os sexos, e o problema disso não é meramente “a marginalização da atividade”, inclusive porque o projeto prevê, centralmente, a descriminalizaçã o das condutas de favorecer a prostituição. E como regulamentar isso? Facilitar a reposição da mercadoria? Estabelecer tabela de preços?

Somos mulheres, não mercadoria

Na década de 80, organismos internacionais estimularam e impulsionaram a criação de organizações de prostitutas, por conta da necessidade de massificar a prevenção da Aids, doença à qual essas mulheres são mais expostas. Algumas dessas organizações tiveram grande importância para a defesa dos direitos humanos e da saúde das prostitutas. Isso não significa que a prostituição seja uma alternativa de profissão para as mulheres (como sempre, as mais pobres), ou que seja positivo regulamentar uma relação de opressão e violência em carreira ou projeto de vida.


Em vez de assumir um discurso de moral machista e conservadora como o acima descrito, em vez de buscar instrumentos para legitimar uma situação de dominação e subordinação extrema de mulheres, que têm seus corpos e suas vidas alienados como em nenhuma outra situação, em vez de facilitar a vida daqueles que exploram mulheres, que as levam de seus países de origem para levar uma vida de violência longe de casa, em vez de tudo isso, há que se construírem alternativas para as mulheres. As políticas de emprego na cidade e no campo precisam ter um enfoque de gênero. As políticas de educação, de saúde, de habitação, não podem ignorar que homens e mulheres são tratados de forma desigual nesta nossa sociedade.


O feminismo sempre defendeu o livre exercício da sexualidade, a autonomia do desejo, o direito ao próprio corpo, a legalização do aborto. E isso nada tem a ver com a apropriação e circulação mercantil dos corpos das mulheres. Quem afirma o contrário, como se a prostituição fosse uma “fatalidade”, um “ato espontâneo”, ignora que nossa sociedade é marcada pelo machismo, pela opressão e pela exploração econômica. Não é possível descolar práticas sexuais das relações sociais nas quais estão inseridas. Prostituição é quando a desigualdade e a opressão apresentam sua carga erótica. Isso deve ser combatido, não estimulado.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Um bom dia


Mau humor. Incômodo, dor de alma. Sensação de impotência, ninguém entende, ninguém vai junto. Puta mundo injusto. As pessoas são grosseiras, ninguém se respeita, todo mundo só quer o seu. Está frio lá fora, a Holanda tá eliminada da Eurocopa, o Maluf tá na aliança. A Cidade Baixa está agonizando, a Grécia elegeu a direita, os militares mandam no Egito. Você não sabe bem o que quer, e isso dá um nó nas veias e um assalto no coração. Você sabe bem o que não quer, e isso te embrulha o estômago. E as pessoas, meu Deus... As pessoas.

Vontade de dar uma desaparecida. Do planeta. Assim: "ó, mundo, vou lá e já volto, tá?".

Ai, preciso de um abraço. Pode ser virtual? Pode sim.

Ih, nem tinha reparado que dessas nuvens escuras chovem florezinhas coloridas.


***
Postado no Face há alguns dias... Achei que merecia vir pro blog.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Futebol ontem e hoje

Afinal, o blog é meu e eu posto sobre o tema que quiser, não é verdade?


Ontem - O Corínthians é um baita time. Tá muito bem montado. Chegou à final da Libertadores, pela primeira vez em sua história, com méritos. Desta vez, nem teve ajuda da arbitragem. Acontece que, embora alguns corintianos, não acostumados com a Libertadores, não tenham percebido, a final é em dois jogos. E o Boca, meus amigos... Ah, o Boca é o Boca, viu. Acho que não é desta vez que vocês vão acabar com o maior bulling coletivo do futebol brasileiro. Mas fiquem relax, o importante é competir.

Hoje - Não ficava feliz assim desde a final da Copa do Rei. Que enorme a Itália. Não, pera: que ENORME a Itália. Tô com a Azzurra desde que a Holanda saiu. Porque sim, sei lá, porque sempre gosto da Itália, mesmo quando ela não joga porra nenhuma e todo mundo fica puto. Porque eu não queria torcer pra Alemanha por culpa da Ângela Merkel (desculpem, pessoal, mas às vezes eu deixo a política influenciar em decisões nada a ver, como essa). Eu não queria torcer pra Espanha, convencida pelos amigos da Catalunha. Eu não queria torcer pra Portugal pro Cristiano Ronaldo não roubar a Bola de Ouro do Messi. Como veem, alguns bullings têm sempre que continuar.

Eu quis torcer pra Itália. Balotelli merece ser o nome da Eurocopa. Nem Cristiano, nem Iniesta, Xavi, nem Özil. O negrão Balotelli. Pra assinar seu nome na galeria dos grandes numa Euro em que houve multa por racismo de torcida. Porque a Europa é foda, e racismo tem em todos os países em todo o futebol, e isso TEM QUE parar. Isso é nojento. A UEFA tem que fazer alguma coisa.

No mais, é isso... No meio do caminho da Alemanha, tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho. Torço pra que a Itália derrote a Espanha bem derrotado. E o pobrezinho do Cristiano Ronaldo não vai poder ser nem terceiro lugar. Forza Azzurra!

***
No meio do caminho tinha uma pedra 
tinha uma pedra no meio do caminho 
tinha uma pedra 
no meio do caminho tinha uma pedra. 

Nunca me esquecerei desse acontecimento 
na vida de minhas retinas tão fatigadas. 
Nunca me esquecerei que no meio do caminho 
tinha uma pedra 
tinha uma pedra no meio do caminho 
no meio do caminho tinha uma pedra
(Drummond)

quarta-feira, 27 de junho de 2012

O mundo e os males


Ei, guria.
Que o mundo é grande, a gente é pequeno.
Não sofra, ó, não sofra.

Não é porque a estrada é curta
Nem é porque o sonho é pequeno
O que eu sinto e tu sentes, ó, guria
Não é menor não.

Ei, vem, vamos cantar.
Canta, porque cantando
Os males dos outros se esvaem
Esvaindo-se os males
Nós ficamos todos bem.

E os males, querida
Parecem grandes, porque somos pequenas
Mas a gente é concreta
Eles não.

Guria, querida, minha amiga.
O mundo não é o que deveria ser.
Mas nós podemos fazer
Que pelo menos, ele mereça
Que a gente more nele.

Cantando.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Vai, Grécia!

Porque o futebol é imponderável. Porque as batalhas da vida são mais duras que as do campo. Porque sempre dá vontade de torcer pelo mais fraco. Porque o mais fraco, às vezes, é brabo pra caramba. Porque o mais forte oprime o mais fraco. Porque quem joga bem já se eternizou por isso, nem precisa da vitória. Porque quem joga mal precisa jogar mais, pra melhorar. Porque é chato já saber o resultado. Porque quem dança merece mais que os outros ser feliz. Porque quem trabalha tem que ter o direito de decidir seu próprio futuro. Porque o futebol pode ser injusto, que não tem problema. Porque o mundo não pode ser injusto. Porque a gente gosta quando o povo levanta pra gritar gol. Porque a gente gosta ainda mais quando o povo levanta pra gritar basta. Porque Davi já venceu Golias. Porque Golias não pode esmagar os filhos de Davi. Porque, no futebol, nem sempre o melhor vence; e porque na vida, a gente luta pelo que há de melhor no mundo.


Vamos, Grécia! Hoje é dia de se vingar, pelo menos um pouquinho, daquela Angela Merkel.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Sem


Sem remédio
Nem viabilidade
Solução
Volatilidade
Sem saída
Sem critério
Porta aberta
Escancarada

Sem voltar
Sem nunca ir
Sem ter como
Sem partir

Nada.
Não há o que fazer.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Longe do Sol

*


Feche a porta
E as janelas
Nem deixa cotovia piar
Sem barulho
Sem notícias
Pra esconder nosso lugar

Em silêncio
Sorrateiros
Tentando ir além
Ser nada
Ser nenhum
Ser um pouco de ninguém

Desliga o som
Apaga a luz
O galo, não deixa cantar
Mexericos
Melodias
Um balde de blablablá

Fala baixo
Pisa leve
Aqui não há frio
Aqui não há medo

Nosso lugar é livre
Da luz que ofusca
Do som que ensurdece
Nosso lugar é livre
Para a gente poder existir

Não grita
Não canta
Não pule de felicidade
Não se agite
Não se mova
Não se ponha com o sol

Que quando ele cai
É o nosso lugar no mundo
À noite, no escuro
Na calada
Clandestina
Uma vida paralela
Uma vida para lê-la
Pra ter certeza
De que o que sonhamos
Aconteceu

Quietinhos
Intensos

Não, não se apresse
Não há preces
Não há culpa para punir
Nem crime para sentenciar
Não há erro
Nem há outro lugar
Não se afobe
Não me console
Não se mate

Vamos puxar o sol pra baixo
Pra fazer casa
Num brilho de estrela
A mais distante
Perdida no céu profundo

----------
* Para uma epifania linda que eu tive outro dia.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Poema da Madrugada


E se você nem desconfia
Que o dia
Insiste nisso de raiar
O tempo mesmo
Não vai parar
Mas você...
Pára.


Porque parar, às vezes
É o melhor jeito de continuar.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

A festa de Alice


Alice queria porque queria entrar naquela festa. Nunca teve problema algum em adentrar um salão, ou um ambiente qualquer. Sambando miudinho, sempre dançou conforme a música. E por não se levar tão a sério, sempre dançou bem. E por dançar bem, gostavam dela. Sempre tinha sido assim.

Mas aquela roda intimidava mais do que todas as anteriores. Era muito pequena , os braços das pessoas em ciranda eram trancafiados. Bem, é verdade que, às vezes, se entristecia justamente por perceber que aqueles braços trancados às vezes descuidavam do não para receber outréns. Ela nunca foi recebida.

Dançou ao redor da festa por um tempo. Um momento, chegou a ouvir pessoas comentando que ela nem dançar dançava direito. Ficou chateada, mas ficou mais rancorosa que chateada. Um dia, um amigo que tinha conhecido em outra festa, dessas em que entrava e fazia amigos, falou: "ai, Alice, não liga, você não está conseguindo entrar porque todo mundo viu que você estava em outra festa antes... que bobagem, problema deles". E ela continuou dançando sozinha.

Mas tinha mais gente que não entrava na festa. Não porque não conseguia, mas porque nem tinha pensado em entrar mesmo. Juntaram-se a Alice e ficaram sambando do lado de fora. Ficou animado aquele cantinho do lado de fora. Dentro continuava animado, mas os braços ainda estavam trancafiados.

Alice estava feliz, mas às vezes lembrava que não podia entrar na festa de dentro. Achava esquisito que houvesse braços trancafiados num ambiente como festa.

Só que o cantinho animado ficava cada vez mais animado. E como era diferente da festa de dentro - que era boa, mas era diferente do cantinho animado -, quem era diferente da turma da festa de dentro gostou dos braços soltos do pessoal e foi ficando. Quando viram, já eram muitas pessoas sambando diferente.

Alice parou de prestar atenção na festa de dentro. O cantinho cresceu e cresceu, e quando ficou do mesmo tamanho da festa, Alice propôs que juntassem as duas e fizessem uma grande celebração. E todo mundo gostou de Alice, como costumava ser antes.

Inesquecível - outro samba raiou


Escrevi este poema/letra de samba "provocada" por um amigo muito muito muito querido, que deu o tema durante o Carnaval. Saiu isso. Como ele aprovou, vou deixar aí pra vocês verem... Espero que logo logo essa letra ganhe uma música para eu poder cantá-la por aí.
***

Inesquecível

(Alessandra Terribili)

As paixões despertas
São mares revoltos
de humanidade
As histórias incertas
São as que me acorrentam
A meias verdades

O que eu sofro, meu amor
Está antes em mim
Do que em outro lugar
Pois o barco navega
Sem sonhar conter o mar
Mas nem sempre, na tempestade
Sabe a hora de voltar

E eu que já não sei voltar
que me perdi de mim
que já não sei quem sou
Já não sei se esse amor
É só meu e se enfim
Chegou
Pra me desesperar
Me fazer dizer sim
Para todo esse penar
Que não quer se afastar
De mim

Eu que nem sei esquecer
Me lembrei, meu amor
Que os olhos se cegam
Por querer
E mais tarde, talvez
Podem ver outra vez
Que sentir rejeição,
Esse pecado nosso,
Torna inesquecível
Quem o tempo esqueceria
Sem remorso

terça-feira, 24 de abril de 2012

Que triunfe a poesia


"Fecha meu livro, se por agora / Não tens motivo nenhum de pranto". Ouso roubar a ideia do grande Manuel Bandeira para dizer: nem segue lendo minha crônica se espera ler uma análise fria sobre uma partida de futebol.



Eu quis inúmeras vezes escrever sobre o Barça neste blog. Acabei deixando pra lá, porque qualquer lirismo que eu quisesse colocar no meu texto não seria comparável ao que os vejo fazer em campo. Brinco com amigos que é a equipe que vinga o Brasil de 82, a Holanda de 74 e a Hungria de 54. Já ouvi muita gente dizer que é a melhor que já viu. É o time que parece escrever nas bandeiras: "olhem só, vocês pragmáticos, é sim possível vencer com jogo bonito e pra frente".

Minha afinidade com o Barça começou em 1992 - vejam que estranho -, quando o vi pela primeira vez. Meu São Paulo o derrotou na final do mundial de clubes. Não é que eu gostei do Barça. Mas ao ler sobre ele, vi que tinha junto uma história de Catalunha, de povo catalão, de língua catalã. Me chamou a atenção. Desde então, achei-o simpático.

Mas foi de três anos pra cá que me encantei. Pelo futebol, pela obra de Pep Guardiola, pelo belo jogo, jogado no chão, com inteligência, ousadia, beleza. As lindas jogadas ensaiadas, os improvisos espetaculares, a qualidade dos jogadores, quase todos oriundos das categorias de base do clube. A genialidade de alguns deles, Messi principalmente. E mais: não há nenhum jogador do naipe de uns e outros que vivem por aí sendo notícia tanto pelas festas que fazem, as compras, as viagens, as aparições, quanto pelo próprio futebol. O Barça chegou ao topo do mundo com uma equipe de bons moços. Pra mostrar que mau caratismo não é a associação automática da gana de jogar, nem de esperteza.



A temporada passada foi a consagração: título espanhol, Liga dos Campeões, Mundial de Clubes. Não sei se alguém se lembra, mas, Guardiola, ao iniciar a temporada 2011/2012 disse à imprensa: "O mais provável é que não ganhemos nada este ano". Com isso, inteligente e elegante como é, ele anunciava algo realmente previsível: os adversários conheciam cada vez mais seu estilo de jogo e se preparavam para ele. Somar-se-ia a isso a vontade de derrotar o melhor do mundo. Feita a equação. Guardiola estava certo.

O Chelsea se armou para enfrentar o melhor do mundo. O que equivale dizer que se jogou inteiramente para trás, com a disciplina típica do futebol inglês, um pouco de sangue nos olhos e Drogba. Vão me perdoar mas não vou deixar de mencionar a terrível falta de sorte que fez com que 4 bolas fossem mandadas na trave, nesses dois jogos, além do pênalti não convertido pelo inquestionável melhor jogador do mundo. Bem, deu Chelsea.

Pra mim, pior que a retranca do Chelsea, só o olho gordo universal contra a equipe azul-grená. Assim como há alguns e algumas como eu, que se apaixonam pelo que lhes enche os olhos, que se entusiasmam de ver as vitórias de um time que joga como sempre quisemos que jogassem os nossos; também há aquela coisa de torcida de futebol, meio mesquinha e infantil, de querer ver cair quem está no topo. Independentemente de tudo. O seu time não vai ser alçado ao topo no lugar. Mas ele não suporta ver o sucesso do outro, ainda que seja o outro em outro canto do mundo, sem nenhum torcedor dele pra lhe incomodar por perto.



Eu não. Eu me apaixonei pelo futebol vendo o Telê treinar meu São Paulo. Busquei a seleção de 82 pra conhecer o que era aquilo. Me encantei com Zico, Sócrates, tantos outros que sempre jogaram nas equipes adversárias da minha. Para mim, ver o Barcelona vencer, é como dizer pra história recente do futebol: tá vendo como você está errada?

Mas tudo bem. O Barça é tão inspirador, que ele certamente vai encontrar onde beber para recuperar seu trajeto à eternidade. A missão agora - que já ficou demonstrado que futebol bonito ganha jogo sim - é provar que a beleza e a superação também se combinam. E o triunfo definitivo desse grande Barcelona pode vir na próxima temporada, para dizer que, se o melhor nem sempre vence, o melhor sempre volta.


***
PS: Messi segue e seguirá quebrando recorde atrás de recorde. Não se engane, olho gordo.
PS 2: Como diz uma certa música: "quem precisa de notícia? eu prefiro poesia"...

quarta-feira, 14 de março de 2012

Erro de Português

(Oswald de Andrade)

Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.


***
Para o Dia da Poesia.

terça-feira, 13 de março de 2012

Nostalgia - mais um enredo pro samba

Esta letra já tem música, parceria com o camarada Diego Dewes, meu parceiro do violão na Feira de Mangaio. Quem viver ouvirá rm breve! :-)


Nostalgia


Eu que poucas vezes
Olhei para trás
Me pego pensando
Em nunca mais

O que perdi no caminho
Ou sonhei devagarinho
E ficou pela estrada

O que foi só ilusão
Ou nunca teve morada
Em meu coração

Tudo me toma a lembrança
Em tempos de pouca esperança
É desejo de não esquecer
Pra fazer reviver minha missão
Em tanta situação
Que o tempo não deixou morrer

Mas pra não me perder na nostalgia
Tenho sempre a boemia
E as coisas que eu não perdi

É bom lembrar sem chorar
Um lugar aonde voltar
Abraçar o que vivi

quinta-feira, 8 de março de 2012

"Não temo quebrantos, porque eu sou guerreira..."

Da mesma forma que não há um só grande amor na vida de alguém ("o" amor da vida), também não há um só lugar no mundo pra cada pessoa. Atualmente, sinto absolutamente que encontrei meu lugar no mundo. A música e Porto Alegre vieram dar um sentido diferente à minha vida a ponto de transformar muita coisa em mim. Isso não quer dizer que eu sempre andei por aí perdida, sem encontrar meu lugar. Pelo contrário. Tenho a sorte de pertencer a vários "lugares". Isso é muito confortante.

Mas se tem uma coisa que dá sentido a todos os meus lugares e todas as minhas paixões é o feminismo. Este post é para dividir com vocês uma alegria imensa que terei neste 8 de março.


Há exatos dois anos e nesta exata Porto Alegre, peguei meu MTB (registro de jornalista) depois de sofrer implacável perseguição daqueles que deveriam defender os trabalhadores: o sindicato da categoria. Perdoem-me o bom português, mas estou me lixando para o corporativismo deles. Sou jornalista e, como escrevi na ocasião, meu MTB, mesmo antes de existir formalmente, sempre esteve a serviço da luta das mulheres por liberdade e igualdade. É um instrumento de que disponho para contribuir, para ser mais uma em marcha.

Hoje, vou subir ao palco do 512 - rua João Alfredo, 512, Cidade Baixa, Porto Alegre - para marcar o Dia Internacional da Mulher, esse dia tão importante, tão repleto de significados, que traz em si o brilho de cada luta e conquista das mulheres, homenageando as mulheres do samba.



Como Beth Carvalho declarou recentemente, é claro que o samba é machista. Pois se o mundo é, como o samba haveria de não ser? Mas as coisas só mudam na luta das mulheres. Embora ainda haja muito o que mudar, se hoje a realidade é diferente de 50 anos atrás, isso se deve somente às mulheres que resistiram, que não aceitaram passivamente o papel da submissão, que ousaram desnaturalizar a opressão e reagir. Muitas morreram, muitas sofreram represálias de todos os tipos. E mesmo quem abre a boca estúpida para dizer "não sou feminista, sou feminina", deve muito a todas essas que lutaram sem medo. Neste 8 de março, essas aí deviam ajoelhar e reverenciar.

Eu farei isso. Com a sorte de ter ao meu lado pessoas que acreditam na mesma coisa, poderei saudar as mulheres do mundo, as guerreiras de todos os lugares, por meio das mulheres do samba. Que enfrentaram mundos e fundos para fazer valer sua vontade e pôr sua voz no mundo. Que superaram obstáculos ferozes para triunfar. Que experimentaram a desigualdade em sua trajetória, e foram em frente com autenticidade, sem se render a padrões perversos que só aprofundam as injustiças. Que entenderam que sua voz e sua música podem sim contribuir pra mudar o mundo, e a vida de tantas outras que vieram depois, e não precisaram esconder seu nome feminino para assinar uma composição, como D. Ivone Lara teve de fazer.

Peço a benção a Clara Nunes, mineira guerreira, primeira mulher a estourar em venda de discos no Brasil. Mulher como tantas mulheres do nosso país, de origem pobre, trabalhadora desde criança, matando um leão por dia. Destemida, correu atrás de um sonho, passando por cima de caras feias, esteriótipos e preconceitos. Resgatou a diversidade da cultura brasileira, chamou a África para a nossa música, cantou a vida das pessoas. Para quem acha que o povo só se identifica com "ai se eu te pego" e afins, Clara é uma prova viva de que o povo não é bobo coisa nenhuma. Mesmo que a mídia tente forçá-lo a ser, engolindo enlatados descartáveis e enriquecendo mentes vazias todos os anos, a cada verão.


Quem puder ir ao 512 hoje, vai encontrar uma banda que se encontrou exatamente na batalha diária por encontrar seu lugar, e não fugiu do desafio de fazer diferente. Vai encontrar uma cantora feliz da vida, cantando como que estivesse orando. A elas, a todas elas. E especialmente, ao que virá. Mulher tem mais é que carregar bandeira, porque - a história mostra - o mundo depende de que a gente se movimente. Salve o 8 de março! Saravá!

Alcione canta "Maria da Penha".

Clara, a mineira guerreira, grande inspiração.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Violência de "gênero" é o escambau

Para combater a violência contra as mulheres, é preciso tratá-la como elemento da vida real, e mostrar que o agressor é um homem e a agredida é uma mulher.


Nestes dias, o Brasil acompanha o julgamento do assassino de Eloá Pimentel, uma menina de 15 anos morta pelo ex-namorado. O motivo: ela rompeu com ele. Inconformado, e valendo-se do machismo que não aceita que as mulheres tenham as rédeas da própria vida, o rapaz sequestrou a moça e a manteve em cárcere privado por dias. Ao final, ela foi assassinada em rede nacional.

A atuação desastrosa da polícia paulista no caso é memorável. Basta lembrar que mandou de volta ao cativeiro uma vítima que havia sido libertada pelo sequestrador, a menina Naiara, que, ao final, teve como saldo a perda da melhor amiga e um tiro no rosto. Eloá pagou com a vida. Foi atingida por dois tiros que o sequestrador disparou quando a polícia invadiu o local.

Outra característica daquela situação foi a cobertura em tempo real. Enquanto Eloá e Naiara estavam sob a mira do revólver de Lindenberg, também estavam sob os holofotes da mídia. É certo que a cobertura jornalística deve haver. Para informação da população, para divulgação dos casos e para oferecer um olhar atento que intimide o criminoso. Mas o que se viu ali foi uma cobertura que, de tão sensacionalista, quase chegou a confundir vida real e ficção.

É importante que duas coisas fiquem claras. Uma, a violência contra a mulher não é ficção, não é tragédia de teatro e não acontece só com mulheres bem distantes da vida real. Casos como o de Eloá acontecem o tempo todo. Quem não se lembra da morte da cabelereira Maria Islaine, registrada pelas câmeras de segurança que ela mesma instalou para defender-se do ex-marido? Ou não percebe as incontáveis histórias de mulheres mantidas em cárcere privado por ex-maridos ou ex-namorados? Por que isso acontece? Os homens têm uma tendência "natural" à violência e as mulheres têm predisposição para ser vítima?

Desde sempre essas histórias acontecem (recuperei essa ideia em texto sobre o caso Elisa Samudio). O machismo é uma coisa integral que se manifesta em esferas diversas: na desigualdade salarial, em expressões culturais que subordinam as mulheres, nos atos de violência sexista, em ditas "tradições" que aprisionam as mulheres à vida doméstica de modo a cumprir dupla jornada e realizar gratuitamente uma massa de trabalho infinita. Isso tudo é uma coisa só, cada esfera retroalimenta a outra e assim vai. Combater o machismo é ter um olhar integral e integrado sobre tudo isso.

É por isso que não toleramos as famosas "brincadeirinhas" machistas, sem nos importar em sermos classificadas como "sem senso de humor". É por isso que repudiamos a mercantilização dos corpos das mulheres. É por isso que não aceitamos que homens que lutam dentro de partidos de esquerda e de movimentos sociais reproduzam, no âmbito privado, relações de dominação sobre as mulheres.

E, fundamentalmente, é por isso que não dá pra falar em "violência de gênero" e expressões derivadas. A violência é contra a mulher. Invisibilizar o alvo da violência é não contribuir para o seu enfrentamento. É preciso que se diga quem é a vítima e quem é o agressor. Gênero é categoria de análise, gênero não é sujeito de nada. Quem está exposta à violência são as mulheres, assim como quem se organiza para enfrentá-la são as mulheres.

O caminho para não permitir que haja mais moças de 15 anos que têm a vida interrompida nas mãos de um ex-namorado, mais mulheres e senhoras vítimas de violência doméstica, de cárcere privado, de assassinato, é entender que essa violência é cometida por homens sobre mulheres. É importante ter políticas para a prevenção e o enfrentamento. É importante que as pessoas entendam que é inaceitável, intolerável. É importante desnaturalizar as bases culturais dessa opressão. É importante desconstruir a base material da desigualdade. E pra tudo isso acontecer, uma coisa bem simples precede: é preciso deixar explícito que a violência é produto do machismo - aquele de todo dia, que não é nenhum espetáculo de TV. Chamar de "violência de gênero" significa andar dez passos para trás nessa caminhada.

domingo, 22 de janeiro de 2012

A Fonte das Mulheres

Acho que a melhor decisão que tomei desde que o ano começou foi entrar no cinema nesta tarde de domingo para ver A Fonte das Mulheres. Isso não desmerece as demais decisões de 2012. É que o filme é realmente muito bom.



Eu não tinha ouvido falar dele, mas, como vocês devem supor, o nome me chamou a atenção. Em tempos de pós "Primavera (?) Árabe", o filme ganha ainda mais atualidade. A história se passa numa pequena comunidade islâmica, situada em local desértico entre o norte africano e o oriente médio. Sob um olhar superficial, as mulheres se rebelam contra os homens, porque cabe a elas o trabalho pesado de ir buscar água para abastecer a vila, sem nenhuma ajuda de seus maridos, pais e irmãos.

Entretanto, o enredo se apropria dessa "limitada" questão para lançar luz sobre muito mais. A protagonista da história, a jovem Leila, é das raras mulheres que sabem ler e escrever. Ao lado da experiente Velho Fuzil, as duas questionam a interpretação que se faz do Alcorão, alegando que Alah espera que homens e mulheres sejam iguais. Denunciam que as mulheres realizam todo o trabalho, enquanto os homens somente as exploram. Mobilizam as demais e se organizam para enfrentar a situação por meio de uma greve de sexo, que atinge enorme repercussão. Muitas mulheres acabam estupradas pelos maridos, sofrem violência, inclusive diante dos filhos, sem ter a quem recorrer. Em meio a tudo isso, a omissão da Igreja e a corrupção das autoridades.

Leila é perseguida pela sogra, que demonstra discriminá-la pelo fato de ser estrangeira. Ao mesmo tempo, o marido, professor, dos mais intelectualizados da aldeia, procura apoiar sua luta, mas recua muitas vezes. Teme que as mulheres queiram ir além de conquistar ajuda no ato de ir buscar água.

Num diálogo entre homens, que se reúnem para encontrar solução para o impasse, alguém se lembra que a tarefa, executada pelas mulheres, deveria ser garantida pelo Estado. Porém, pouco ou nada fazem para fortalecer a luta feminina - que, a princípio, buscara a divisão da tarefa com os homens. Os mais conservadores sugerem explicitamente que elas sejam controladas por meio de violência. Porém, destemidas, elas seguem com sua luta, utilizando de todos os poucos artíficios de que dispõem.

Engana-se quem assiste ao filme com desprendimento científico. Ali, fala-se sobre um local perdido entre o norte da Árica e o Oriente Médio, e sobre a religião dos muçulmanos. Entretanto, respeitadas as proporções, aquela é a realidade de todas as mulheres do mundo. A divisão sexual do trabalho, que responsabiliza exclusivamente as mulheres pelo trabalho doméstico e de cuidados, continua escravizando milhões delas em todo o mundo, seguidoras de todas as religiões. A violência é um meio de controlá-las em toda a parte. O estupro dentro do casamento é uma cruel realidade global. A organização das mulheres no feminismo continua sendo combatida por muitos, por meio da desqualificação política e da truculência. A liberdade ainda não é uma realidade, e a luta feminista continua necessária.

As falas e as músicas cantadas por Leila e Velho Fuzil são, muitas vezes, emocionantes. Não porque rebuscadas ou carregadas de metáforas, pelo contrário: exatamente porque falam de coisas concretas de forma literal, com inteligência e coragem.

Um belo filme, uma boa história, uma importante lição: as mulheres não vão aguentar caladas a opressão que sofrem.





LE SOURCE DES FEMMES 
Diretor: Radu Mihaileanu
Elenco: Leïla Bekhti, Hafsia Herzi, Biyouna, Sabrina Ouazani
Duração: 135 min
Ano: 2011

Em Porto Alegre, o filme está em cartaz no Unibanco Arteplex
‎13:30‎ ‎16:10‎ ‎18:50‎ ‎21:30‎

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Todas Elas - samba é substantivo feminino

Mais um sambinha... a parceira Bibiana Petek, da Feira de Mangaio, está colocando a música... Em breve vocês ouvirão. Espero que gostem desta também.


TODAS ELAS

Eu não peço licença
Pra entrar
O lugar é meu também
É aqui que eu vou ficar

Sou maior do que pensa
Vim lutar
Sou visível, sou alguém
O mundo todo é o meu lar

Você pode me tirar
Pra dançar
Mas se eu quiser
Canto, toco, organizo
Faço chover granizo
Se convier

Dançar conforme a música
Andar na linha de corte
Não preciso só de sorte
Não preciso ser a única

Eu sou muitas, sou todas elas
E pra elas vou cantar
Salve Chiquinha, Leci, Clementina
Maria Rita e Jovelina
Vou chegando pra ficar

Eu não peço licença
Pra entrar
O lugar é meu também
É aqui que eu vou ficar

Minha alegria imensa
Não acaba
Irreverência de quem
Conquista a sua vaga

Você pode me tirar
Pra dançar
Mas sou capaz
De escrever letra e melodia
Pra descrever a ferida
Que você traz

Dançar conforme a música
Desde os tempos mais antigos
Eu sei que Clara está comigo
Eu sei que não sou a única

Eu sou muitas, sou todas elas
E pra elas vou cantar
Salve Beth, Elis, dona Ivone
Mariene, Teresa, Alcione
Sou valente como o mar

Salve todas as que não couberam nesta humilde canção, mas que todas trazemos no coração! É a nossa história, a memória, é a senhora do tempo, de todo povo brasileiro, da cultura, da desenvoltura, da vida dura, das grandes figuras... Salve Clara Guerreira pela inspiração, salve toda mulher do samba, salve toda mulher do mundo, salve quem quer um futuro de igualdade pra todos nós! Saravá!

E ninguém vai nos calar.