sexta-feira, 8 de março de 2013

Ser mulher

Nas primeiras horas da manhã, a mulher levantou e foi plantar a vida na terra, pra da terra tirá-la, pra da terra sair. Na terra ficou e plantou-se, como flor, como Rosas, Margaridas e Violetas, com espadas, enxadas e canções, ensinando a humanidade a cultivar o futuro que semeou em tempos bons ou ruins, adubado por sangue e suor de mulher, que percorreram seu corpo sem definir seu destino, para extravasar-se e cair no chão, arando porvires melhores. Mulher sabe que o mundo não é agora, o mundo já foi e vai ser, o mundo existe para ser transformado em colheitas de luta e de sonhos. Mulher rompeu amarras, livrou-se das garras e das mãos que seguravam seus pés. Mulher é inconformada, pode mais e vai além. Mulher não vê o que está ali, vê o que pode estar, e cumpre o caminho que há enquanto observa cuidadosa para encontrar em que lado estará o mato fechado a ser desbravado na direção do novo dia verde. Mulher colhe, todos os dias, o que planta desde a aurora da humanidade, conhece quem é, tem olhos cheios de água e de sons. Choram Marias e Clarices, riem-se Chiquinhas, Claras, Clementinas e Alices. Mulher não sabe o que é medo porque não teve tempo de aprender, enquanto ganhava em seu rosto as marcas do tempo que viu, o peso profundo de tudo o que somos, a beleza luminosa de quem vamos ser. Mulher sai do fogo, da água e da mata, mulher amanhece em qualquer madrugada, mulher sempre sabe o que ninguém percebeu. Mulher é a vida que explode em jornadas ingratas, no pó do caminho, na carga inexata da história que vem correndo atrás, para onde ela chama. Não só Amélias e Emílias, são Coras, Adélias, Cecílias espalhando sementes com versos no ar. No fim do dia, a mulher cansada sente o corpo pesar, mas o olhar é do dia que vai começar. São Iaras, Dandaras, Heleniras, Lourdes, Luízas. Despertam prontas para ser o que são, e sem dó: a mulher é a mão que semeia o mundo melhor.

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