quinta-feira, 30 de abril de 2015

Salve o Almirante Negro!

Sempre que canto O Mestre-Sala dos Mares mencionando o ALMIRANTE NEGRO, alguém vem me "corrigir": é navegante, não almirante. Respondo que não, que é Almirante Negro, João Cândido, líder da Revolta da Chibata em 1910. Foi a ditadura militar que tentou descaracterizar nosso herói na letra da linda música de João Bosco e Aldir Blanc.

Nestes dias, encontrei a letra original inteira. Há muito mais versos censurados pela ditadura. Com grande felicidade, pude encontrar esta gravação da Elis no México, onde ela pôde saudar devidamente o Dragão do Mar (herói cearense do combate à escravidão) e João Cândido:


Se a ditadura militar matou tantos dos nossos e tentou apagar nossa história, nós estamos vivos, atentos e preservaremos com orgulho e amor nossa memória e todas as lutas inglórias. João Cândido não ficará marcado apenas nas pedras pisadas no cais.

De hoje em diante, só canto a letra original.

O Mestre Sala dos Mares*
(João Bosco / Aldir Blanc)

*Letra original sem censura

Há muito tempo nas águas da Guanabara
O Dragão do Mar reapareceu
Na figura de um bravo marinheiro
A quem a história não esqueceu

Conhecido como o almirante negro
Tinha a dignidade de um mestre sala
E ao navegar pelo mar com seu bloco de fragatas
Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas
Jovens polacas e por batalhões de mulatas

Rubras cascatas jorravam das costas
dos negros pelas pontas das chibatas
Inundando o coração de toda tripulação
Que a exemplo do marinheiro gritava não

Glória aos piratas, às mulatas, às sereias
Glória à farofa, à cachaça, às baleias
Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história
Não esquecemos jamais

Salve o almirante negro
Que tem por monumento
As pedras pisadas do cais

Mas faz muito tempo...

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Senhor Samba #1 - Carmen & Assis

A história do samba é repleta de personagens riquíssimos. Normalmente, não são personagens individuais, mas sim, que representam uma coletividade artística, histórica, de estilo, e muitas vezes isso se traduz numa coletividade material mesmo: um grupo de pessoas reunidas num mesmo projeto ou numa mesma comunidade.

Com os estudos que tenho feito, mesmo que ainda incipientes, já é possível identificar algumas dessas coletividades e sua obra, suas características. Quero expor essas reflexões para debate, e assim, também receber as contribuições de vocês em debate virtual. Destaco que não sou musicista, mas cantora e escritora, o que dá às letras dos sambas lugar muito especial nas minhas análises e opiniões.

Começo por uma dupla que, para mim, é até hoje das melhores produzidas pela música popular brasileira: a bem-sucedida parceria entre Carmen Miranda e seu compositor predileto, o brilhante Assis Valente.

Amo Assis Valente de paixão, pela capacidade extraordinária de abordar seus temas de forma encantadoramente original. Não é qualquer um que faz samba sobre recenseamento, mencionando, inclusive, o agente recenseador, e levando a gente em teletransporte para os anos 30. Da mesma forma, ele fala de Carnaval, do fim do mundo, do Brasil.

Amo Carmen Miranda também, uma das artistas mais reluzentes que o país produziu. Habilidade de interpretar nota mil, voz impecável, presença inconfundível. Uma revolucionária do canto brasileiro. Carmen cantando os sambas de Assis é tipo pra ouvir com o corpo todo em sorrisos.

Sugestões de sambas para conhecer o trabalho dos dois:

Recenseamento (mencionada no texto)

Camisa Listada

E o mundo não se acabou


***
Aproveito para apresentar a quem não conhece, a minha interpretação de "E o mundo não se acabou", acompanhada pelo grupo Sai da Frente:



Brasília

Da minha casa, eu vejo o céu
Do céu, eu vejo tudo

Subo até lá e assisto a cidade acordar
Viver, cansar-se, dormir
Adormece numa cama vermelha
Com riscos laranja, amarelo, rosa

No movimento da noite, uma flor se ergue
Brilha
E me leva para casa

De onde eu vejo o céu
E respiro o mundo.


***
#Brasilia55anos

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Quando você entrou em mim como o sol num quintal

Ora, e quem há de me condenar?

É o amor quem me redime diariamente,
Tão irremediável quanto a morte,
Tão incorrigível quanto a passagem do tempo.

Quem haveria de me impor limites?

Se o pensamento é livre e voa
Ainda que o corpo esteja encarcerado em normas,
E que os movimentos estejam controlados
Pela moral dos que fazem a moral
Alheia à vida real
(que é tão amoral!)
Somente para criminalizar
A nossa própria humanidade
E meter-nos a culpa para nos imobilizar.

Quem atirará a primeira pedra?

Aquela que fere o corpo
Mas fortalece o desejo da alma
De subverter a lógica estúpida e mesquinha
Das gentes que teimam em não amar
Mas em obrigar-se ao fardo
Ignorando a beleza do saltitar espontâneo do coração
Cobrindo a vida de correntes
Para sacar-lhe o que tem de mais belo:
O movimento.

Mas eu vos direi, no entanto:

A vida não cabe nos seus códigos
O amor não descansa mesmo amordaçado
É ele quem me dá pão e água
Que, envoltos em olhos, bocas e braços,
Fazem-se peixe e vinho,
E assim, me alimento da presença
Para sobreviver à ausência que depois vem.

O senso que me orienta
Anuncia-se no ardor irrequieto da minha pele:
É o pulsar incessante e contente do meu peito em festa.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Contribua com a produção do EP Curto Pavio!

Está no ar! Contribua com a produção do EP Curto Pavio através da plataforma de financiamento coletivo Benfeitoria.Com! Basta acessar o site, escolher a quantia para contribuição e a recompensa que deseja!

O EP contará com 4 faixas: o Xote Sem Fronteiras (que vocês já conhecem), dois sambas autorais e uma marchinha de Noel Rosa. Tudo sob a direção de Vinicius Ferrão; e gravado, mixado e masterizado por Juliano Rodriguez no Estúdio Monoestereo, em Porto Alegre.

Para fazer parte dessa história, clique AQUI e muito obrigada!!!